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Quais as chances reais de o Rio se tornar uma espécie de Vale do Silício, com seu próprio boom de empresas de alta tecnologia? O caminho não tem nada de simples. Antes é preciso ter certeza de que o Brasil está pronto para ter seu Vale para aí disputar espaço. Mas, na última sexta-feira, a aceleradora de startups 21212 apresentou a segunda turma de jovens empresas a investidores no MAM. No país, ninguém está mais avançado do que eles. E seus resultados iniciais surpreendem. A ambição não é pequena: criar, aqui, o tipo de clima que permite a criação em série de empreendimentos digitais.

O nome 21212 vem dos códigos de área do Rio (21) e de Nova York (212). Não à toa. Os fundadores são o brasileiro Marcelo Sales e o americano Ben White. Um pé no Rio, outro em NY. Ambos são crias da cultura de empreendedorismo digital nascida no Vale. Fizeram dinheiro e decidiram mergulhar no objetivo de recriar aquela experiência aqui.

Uma aceleradora encuba rápido. O sujeito tem uma boa ideia e o embrião de um produto. Na aceleradora, encontra a infraestrutura necessária para se erguer. Contabilidade, jurídico, apoio administrativo. Os empreendedores convivem uns com os outros, trocam ideias. Aprendem com mentores, gente experiente que já passou por situações parecidas. E fazem o que é, essencialmente, um curso concentrado de como criar sua própria startup.

Nem toda empresa iniciante é uma startup. Startup é um método de iniciar uma companhia. Uma filosofia de investimento. Na primeira fase, o empreendedor é auxiliado por um anjo. É o apelido de quem põe o dinheiro inicial. Não muito, só o suficiente para que um protótipo seja criado, os primeiros empregados contratados e o mercado, testado. O investidor anjo não faz um empréstimo. Vira sócio. No modelo da startup, também recebem o direito de comprar ações os empregados mais importantes. É um incentivo para que fiquem.

A cultura do empreendedor brasileiro não é a de dividir sua empresa. Os jovens que cursam engenharia e ciência da computação sonham com um bom emprego, não com fazer fortuna criando o próprio negócio. E os investidores não estão habituados ao risco de colocar dinheiro em ideias. É tudo novo. Este é o desafio.

Quando a empresa já está parruda o suficiente, parte para a série A. Uma nova leva de investidores entra, invariavelmente diluindo a participação dos iniciais. Mas estes pagam mais caro pela participação. A nova dinheirama pega o modelo já testado e financia a estrutura para que aumente ainda mais. Daí vêm as outras séries: B, às vezes até uma C, até que a empresa seja rentável. Tudo que surgiu no Vale do Silício nasceu seguindo este processo.

Em duas turmas, a primeira com dez empresas e a segunda com nove, em menos de um ano, a 21212 já tem pelo menos dois casos de sucesso no próprio Vale. A PagPop, que produz um pequeno dispositivo que, acoplado ao smartphone, permite que profissionais liberais cobrem com cartão, recebeu um investimento da Intel Capital. A Queremos!, que arregimenta fãs de bandas para rachar o cachê de shows, driblando os produtores, cantou sua ideia num dos mais badalados eventos da Califórnia, o TechCrunch Disrupt. E, lá, conseguiu seu primeiro investidor. Eles, aliás, já estão preparando as malas para lançar o serviço que já existe aqui por lá. Já realizaram um concerto, em San Francisco.

Uma das conclusões de Sales e White é que seis meses é tempo demais para a aceleração. De duas turmas por ano, passarão a haver três. Identificaram, também, que um dos pontos frágeis aqui no Brasil é o capital inicial. São poucos os anjos e, por conta disso, iniciaram o levantamento de um fundo de US$ 50 milhões para essa fase.

A sede é no Rio, mas nem todas as empresas são cariocas. Seu universo é o país todo. Já conseguem atrair estagiários das melhores universidades dos EUA: Yale, Harvard, Duke. No país, o mercado é grande, e as empresas de internet, pouco diversificadas. Acreditam que há possibilidades. O empurrão para que o Vale do Silício brasileiro seja o Rio está dado. O futuro, hoje, parece promissor.

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